“Sou a hora vermelha, a hora vermelha desatada.” A escolha desta frase como lema da Bienal de Arte Contemporânea que acontece neste mês em Dacar não tem nada de casual. Extraída da peça teatral Et les Chiens se Taisaient (1958) do ideólogo da negritude, o poeta martiniquenho Aimé Cesaire, faz referência à emancipação, à liberdade conquistada, à metamorfose. A África, assim entendeu o curador do Dak'art 2018, Simon Njami, passar por este momento de mudança, de nascimento de algo novo. Na arte, mas também na filosofia, na sociedade, na gestão pública, na economia, na maneira como os africanos se relacionam entre si e com o mundo.
Nesta sexta-feira se comemora o 55º. aniversário da criação da Organização para a Unidade Africana (OUA), o organismo continental que foi o embrião da atual União Africana (UA). Aquele sonho de unidade – frustrado desde o princípio por disputas fronteiriças, ambições de poder de certas elites africanas e o permanente bafo no cangote das ex-potências convertidas ao neocolonialismo – parece começar a tomar corpo agora, meio século depois. Em 21 de março deste ano, 44 dos 55 países africanos aprovaram a criação de uma Zona de Livre Comércio Continental, o primeiro passo para um mercado comum de 1,2 bilhão de pessoas.
Na foto da cúpula de chefes de Estado celebrada em Kigali (Ruanda) que validou esse acordo – aliás, nenhuma mulher na imagem, sendo a representação paritária nas instâncias mais elevadas do poder outro desafio continental neste século XXI – aparece o presidente de Gana, Nana Akufo-Addo, em um discreto segundo plano que não corresponde ao papel de referência que foi burilando em pouco mais de um ano no cargo.
A adoção de medidas como a nomeação de um promotor especial contra a corrupção, uma das pragas que atravancam o desenvolvimento africano, a gratuidade da educação secundária, o projeto de construir uma fábrica para o beneficiamento de cacau (promovendo a industrialização em detrimento da exportação de matérias primas) e, sobretudo, a renúncia à ajuda do FMIprojetam o novo presidente ganense como um exemplo de políticas autônomas em relação aos ditames ocidentais, enquanto sua economia cresce mais que qualquer outra no mundo (8,3% neste ano).
África está em um momento de mudança, de nascimento de algo novo
A forma como Akufo-Addo chegou ao poder, numa alternância pacífica, está se tornando norma em toda a África, como mostram os exemplos da Nigéria, Benin e, mais recentemente, Libéria, onde o ex-jogador de futebol George Weah soube ler as necessidades dos mais humildes. Os autocratas também estão em retrocesso. Seguindo a onda das revoltas no Senegal e a revolução burkinesa, o ano passado começou com a queda de Jammeh na Gâmbia e terminou com a defenestração de Mugabe no Zimbábue e a aposentadoria de Dos Santos em Angola. Embora seja verdade que países como Uganda, Camarões e Guiné Equatorial ainda sejam trincheiras de velhos dinossauros, e que no Egito e Burundi acampam tiranos recém-saídos do forno, a democracia, ao menos formalmente, avança pelo continente, e os golpes de Estado são cada vez menos tolerados.
Esse avanço político está intimamente ligado à emergência de uma classe média que precisa de paz e estabilidade e ao avanço da educação, com passo firme, apesar de alguns tropeços, em todos os países do continente. Embora os desafios sejam enormes e haja 33 milhões de crianças sem acesso à educação primária na África Subsaariana, a reunião da Aliança Mundial pela Educação realizada em fevereiro deste ano em Dacar serviu como estímulo aos Governos para incrementar os orçamentos nessa rubrica (chegando a 20% de seus PIBs). A escola, reconhecem todos os líderes africanos, é a pedra angular para combater o radicalismo que se enquistou em lugares como o norte do Mali, a Somália e o nordeste da Nigéria. Mas a educação também engendra uma população crítica e informada.
No coração de todas estas mudanças está o incremento da consciência popular e a emergência de movimentos sociais que articulam o descontentamento de amplos setores marginalizados de um crescimento econômico importante, mas não inclusivo. Se a África se encontrar em algo semelhante à “hora vermelha” de Cesaire, isso não é tanto porque seus dirigentes tenham tido uma epifania, e sim porque estão sendo pressionados de baixo para cima. Plataformas como Y’en a Marre no Senegal, Le Balai Citoyen em Burkina Faso, Trop C’Est Trop no Mali, Filimbi e Luta na República Democrática do Congo e Ça Suffit no Chade representaram, acima de tudo, um exercício de reapropiação da política e recuperação do espaço público por parte dos cidadãos.
Essa movimentação nas ruas, liderada por rappers e cantores de hip hop, se baseia, em sua parte mais dinâmica, em dois elementos exógenos: o brutal crescimento das novas tecnologias e a potente mensagem vinda da Tunísia e da egípcia praça Tahrir durante o auge da Primavera Árabe. Entretanto, suas raízes profundas são negro-africanas até a medula, da ruptura sankarista à delirante recusa a morrer do rebelde Marcial no romance La Vie et Demie, de Sony Labou Tansi, passando pelo anticolonialismo furioso de Frantz Fannon e o feminismo radical da nigeriana Funmilayo Ransome-Kuti, mãe do artista Fela Kuti.
De todos eles um pouco, mas também de sua enorme capacidade para farejar o ambiente, procede a inspiração que levou o intuitivo economista senegalês Felwine Sarr a escrever Afrotopia, um livro que virou espelho deste continente em busca, que precisa rever conceitos como os de democracia e desenvolvimento. “A África não tem que alcançar a ninguém. Já não deve percorrer os atalhos que lhe indicam, e sim caminhar com passo firme pelo caminho que escolheu”, afirma Sarr. Olhando para frente, sem esquecer a história.
No coração de todas as mudanças está o desenvolvimento de uma consciência cidadã
Daí a indignação, no final de 2017, com a revelação da existência de mercados de escravos na Líbia. Os dirigentes africanos, pressionados por suas opiniões públicas, apressaram-se em facilitar voos de repatriação humanitária aos migrantes que estavam nos centros de detenção de Trípoli. Também a inauguração, neste mês, das obras de remodelação de uma praça chamada Europa na ilha senegalesa de Gorée, autêntico símbolo desse passado difícil de digerir, gerou um grande mal-estar em boa parte da sociedade civil africana. Quando se deu o nome ao lugar, em 2003, ninguém protestou, mas agora o momento é outro. O mesmo se aplica à estátua do general francês Faidherbe que domina a praça central da cidade da Saint Louis, no norte do Senegal: foi inaugurada em 1887, mas só nos últimos anos surgiram iniciativas para retirá-la.
Velhas feridas e novos problemas. Enquanto a mudança climática se faz notar na erosão costeira da Mauritânia a Angola, e a seca se torna crônica no castigado Sahel, ameaçado novamente por uma crise alimentar neste ano, os países africanos adotam medidas. O projeto da Grande Muralha Verde se estende, ainda que com exasperante lentidão, e o continente declarou a guerra ao plástico: o Quênia acaba de se somar a cerca de outros 20 países que nos últimos anos proibiram as sacolas desse material, uma autêntica praga bíblica que alaga todos os rincões. Até agora Ruanda, conhecida como a Suíça africana pela limpeza de suas ruas, foi o país que mais teve sucesso na aplicação da lei.
O continente é tão grande e tão diverso que é preciso examiná-lo com lupa. Enquanto 300 milhões de africanos não têm acesso à água potável ou precisam percorrer vários quilômetros por dia para extrai-la, países como Gana, Marrocos e Quênia já contam com seus primeiros satélites orbitando a Terra, numa espécie de afro-corrida espacial. Se a eletrificação rural continua sendo uma necessidade urgente na Etiópia e em Burkina Faso, nas cidades de meio continente o consumo de séries made in Africa dispara. Já não é só a famosa Nollywood; muitos outros países atualmente emitem as suas próprias produções.
O escritor nigeriano Wole Soyinka, ganhador do Nobel de Literatura, dizia numa entrevista no documentário Negritude, do malinense Manthia Diawara, que, frente à arrogância de culturas fundadas nas grandes religiões, que creem deter a verdade revelada e tentam impô-la aos outros, “um dos grandes legados africanos ao mundo são suas religiões não estruturadas, em constante busca e questionamento”. Talvez desta raiz também se nutra esta “hora vermelha”, talvez daí venha este momento de indefinição e busca, em que o continente quer olhar para o futuro e desenvolver seu próprio modelo, sem trair seu passado nem “se transformar num museu”, como dizia o poeta e primeiro presidente senegalês, Léopold Sédar Senghor.
JÜRGEN HABERMAS: “FOR GOD’S SAKE, SPARE US GOVERNING PHILOSOPHERS!”
On the eve of his 89th birthday, one of the world’s most influential living thinkers is looking spry as he offers his view on the most pressing issues of our time from his home in Starnberg, including nationalism, immigration, the internet and Europe
Este blog atañe a los amantes de la literatura que, en algún momento de su vida, han sentido la pasión de escribir un libro y, al concluirlo, han descubierto que ningún editor se atreve a publicarlo. A ellos, y a todos los que aprecian el valor de la cultura, va dirigido este espacio, con la intención de exponer conflictos y proponer soluciones para resolverlos.
El imperativo de la novela es la autopsia, el examen minucioso del personaje; nada de referirse a lo que es, sino a lo que hace o dice, para que el lector lo interprete. De narrativo o indirecto, el relato se ha ido haciendo descriptivo o directo. Fuera mejor decir presentativo. Leer articulo completo
José Ortega y Gasset (1883-1955) ha sido uno de los pensadores españoles que más proyección internacional ha tenido y el que más ha destacado dentro de aquella corriente de intelectuales que vivieron en la primera mitad del siglo XX. Su estilo, más cerca de la prosa literaria que del discurso filosófico, posee una brillantez expositiva en la que reside una de las claves del éxito y difusión de sus libros. En 1925, escribió La deshumanización del Arte e Ideas sobre la novela; en esta obra, medita sobre la anatomía y fisiología de la novela, como continuación de lo que ya expuso en su Breve tratado de la novela y que pertenece a Meditaciones del Quijote, publicada en 1914.
Dice Ortega que los editores se quejan de que mengua el mercado de la novela. En efecto, acaece que se vende menos novelas que antes y que, en cambio, aumenta relativamente la demanda de libros de contenido ideológico. Denuncia las dificultades que el autor moderno encuentra a la hora de escribir una novela y las justifica por el hecho de que es un género agotado.
Siempre ha sido cosa difícil producir una buena novela. Para lograrlo bastaba con tener talento. Pero hoy eso no es suficiente. Durante un cierto tiempo, los escritores pudieron escribirlas por la sola novedad de sus argumentos. Por algo se llama al género “novela”, es decir, “novedad”. Así parecieron legibles muchas novelas que hoy resultan insoportables. Pero solo existe un número definido de temas y al escritor del siglo XX le resulta prácticamente imposible hallar nuevas figuras. He aquí el primer factor que limita la creación literaria, aun a pesar del genio y la destreza que posea el que lo intenta.
A esta dificultad, se añade otra quizá más grave. Conforme se iban publicando novelas originales, la sensibilidad del público se fue haciendo más rigurosa y exacta, creció la exigencia de proposiciones “más nuevas”, hasta que se produjo en el lector un embotamiento de la facultad de impresionarse. Este segundo factor gravita hoy sobre todo el género.
Por estas dos razones deduce el ensayista que el género novela, si no está irremediablemente extinguido, se halla en su período último y padece una tal penuria de materias posibles que el escritor necesita compensarla con una exquisita calidad en el resto de ingredientes. La prueba está en que aquellas novelas famosas o “clásicas” que antaño tuvieron éxito hoy parecen peores o “menos buenas”. Son muy pocas las que se han salvado del naufragio en el aburrimiento del lector.
Bajo este supuesto, afirma Ortega que lo importante en la novela no es el argumento, sino los aspectos formales, algo parecido a lo que ocurre con la pintura moderna. El objeto que se expone no está presente en toda su plenitud, solo se ofrecen algunas alusiones a él, pobres y no esenciales. Cuanto más miremos el lienzo, más claro nos es la ausencia del objeto. Esta distinción entre mera alusión y auténtica presencia es, en mi entender, decisiva en todo arte; pero muy especialmente en la novela.
Si analizamos la evolución de la novela desde sus inicios, vemos que el género se ha ido desplazando de la pura narración—que era sólo alusiva— a la rigorosa presentación. En sus comienzos, pudo creerse que lo importante para la novela era su trama. Pero pronto dejaron de atraer las aventuras de los protagonistas, para penetrar más en ellos, entenderlos, sumergirnos en su mundo, en su atmósfera. El imperativo de la novela es la autopsia, el examen minucioso del personaje; nada de referirse a lo que es, sino a lo que hace o dice, para que el lector lo interprete. De narrativo o indirecto, el relato se ha ido haciendo descriptivo o directo. Fuera mejor decir presentativo.
Frente al narrador omnisciente característico de la novela decimonónica, Ortega se inclina por un narrador objetivo, más acorde con el método presentativo que él considera apropiado para la novela. Por eso, Ortega ve como adecuadas para construirla algunas de las técnicas características del género teatral, en particular, la forma de introducir los personajes, a los que el narrador deja dialogar sin su intervención.
Si en una novela leo “Pedro era atrabiliario”, es como si el autor me invitase a que yo realice en mi fantasía la atrabilis de Pedro, partiendo de su definición. Es decir, que me obliga a ser yo el novelista. Pienso que lo eficaz es, precisamente, lo contrario: que él me dé los hechos visibles para que yo me esfuerce, complacido, en descubrir y definir a Pedro como un ser atrabiliario.
Según esto, la novela ha de ser lo contrario que el cuento. El cuento es la simple narración de peripecias. La aventura no nos interesa hoy o, a lo sumo, interesa sólo al niño interior que, en forma de residuo un poco bárbaro, todos conservamos. El resto de nuestra persona no participa en el apasionamiento que el folletín provoca. Es muy difícil que hoy quepa inventar una aventura capaz de atraer a una “sensibilidad superior”, una cualidad que el pensador español exigiría al lector del tipo de novela que él propone.
En Grecia, en la Edad Media, se decía que los actos son consecuencia y derivados de la esencia. En el siglo XIX, se considera como un ideal lo contrario: el ser no es más que el conjunto de sus actos o funciones. A partir de Kant, predomina una exacerbada tendencia a eliminar de la teoría las sustancias y sustituirlas por las funciones. Por ventura, ¿estamos mutando hoy de las acciones a la persona, de la función a la sustancia? Pues sospecho que la novela de alto estilo tiene que tornar de un arte de aventuras a un arte de figuras; más que inventar tramas, debe idear personajes atractivos.
Se atribuye a Dostoievsky el carácter inconsciente, turbulento de sus personajes y se hace del novelista mismo una figura más de sus novelas, que parecen engendradas en una hora de éxtasis demoníaco por algún poder elemental y anónimo, pariente del rayo y hermano del vendaval. Sin embargo, Ortega defiende que, antes que otra cosa, el escritor ruso es un prodigioso técnico de la novela, uno de los más grandes innovadores de la forma novelesca. Sus libros son casi siempre de muchas páginas y, sin embargo, la acción presentada suele ser brevísima. A veces, necesita dos tomos para describir un acontecimiento de tres días, cuando no de unas horas. A Dostoievsky no le duele llenar páginas y páginas con diálogos sin fin de sus personajes para, merced a ese abundante flujo verbal, otorgarles una evidente corporeidad que ninguna definición puede proporcionar.
Y Proust lleva esa secreta estructura a la máxima expresión: la lentitud llega a su extremo y el relato se convierte en una serie de planos estáticos, sin movimiento alguno, sin progreso ni tensión. La novela queda así reducida a pura descripción inmóvil, sin algo tan esencial como es la acción concreta. Su papel ha de ser mínimo, pero no cabe eliminarla por completo. Al renunciar del todo a ella, Proust ha escrito una novela paralítica.
Por tanto, hay que invertir los términos: la acción o trama no es la sustancia de la novela, sino, al contrario, su armazón exterior, su mero soporte mecánico. La esencia de lo novelesco no está en lo que pasa, sino precisamente en lo que “no pasa”, en el puro vivir, en el ser y el estar de los personajes. La táctica del autor ha de consistir en aislar al lector de su horizonte real y aprisionarlo en un pequeño horizonte hermético e imaginario que es el ámbito interior de la novela. En una palabra, tiene que “apueblarlo”, lograr que se interese por aquella gente que se le presenta. En vez de agrandar su horizonte, ha de tender a contraerlo, a confinarlo. Así y sólo así, prestará atención a lo que dentro de la novela pase.
La novela, aunque constituya un universo autónomo, independiente de la realidad, ha de ser construida con materias que imitan las formas de la vida. El novelista ha de intentar anestesiar al lector para la realidad y recluirlo en la hipnosis de una existencia virtual. El mundo de la novela ha de ser hermético y no trascender el mundo real. Como consecuencia de ese hermetismo, la novela no puede aspirar directamente a ser filosofía, panfleto político, estudio sociológico o prédica moral. Novelista es el hombre a quien, mientras escribe, le interesa su mundo imaginario más que ningún otro posible.
Por lo demás, es la novela el género literario que mayor cantidad de elementos ajenos al arte puede contener: ciencia, religión, arenga, sociología, juicios estéticos, con tal que todo ello quede, a la postre, desvirtuado y retenido en el interior del volumen novelesco. En una novela, puede haber toda la sociología que se quiera; pero la novela misma no puede ser sociológica. La dosis de elementos extraños que pueda soportar el libro depende en definitiva del genio que el autor posea para disolverlos en la atmósfera del relato como tal.
Para terminar, dice Ortega que, con estos pensamientos, no pretende aleccionar a los que sepan de estas cosas más que él: “Es posible que cuanto he dicho sea un puro error. Nada importa si ha servido de incitación para que algunos jóvenes escritores, seriamente preocupados de su arte, se animen a explorar las posibilidades difíciles y subterráneas que aún quedan al viejo destino de la novela. Pero dudo que encuentren el rastro de tan secretas y profundas venas si antes de ponerse a escribir su novela no sienten, durante un largo rato, pavor”.
Mircea Cartarescu (Bucarest, 1956) vive un momento dulce. Su novela Solenoide (Impedimenta) fue destacada como uno de los grandes libros del año pasado, acaba de ganar el Premio Formentor y es el encargado de pronunciar el discurso inaugural de la Feria del Libro de Madrid, que tiene a Rumania como país invitado.
¿Qué libros de la literatura rumana deberían conocer todos los europeos? No creo que exista un solo libro que todo lector, europeo o no, debería leer. Ni siquiera la Ilíada, o el Quijote, o Fausto o el Ulises. La literatura rumana es vasta, espléndida, e intraducible, como cualquier otra literatura en el mundo. Si tuviera que citar solo dos libros, elegiría dos novelas en las cuales hasta los títulos son casi imposibles de traducir: Craii de Curtea-Veche (Los depravados príncipes de la vieja corte), de Mateiu Caragiale, e Întâmplari in irealitatea imediat (Acontecimientos de la irrealidad inmediata), de Max Blecher.
¿Qué libro le hizo querer ser escritor? Nunca pretendí convertirme en escritor. Los mejores libros que leí hicieron que no quisiera ser escritor. Los de Kafka, por ejemplo, o los de Proust, o los de cualquier otro que escribiera para satisfacer sus propias necesidades, para entenderse a sí mismo, para curarse, no para convertirse en un escritor célebre en todo el mundo.
¿Qué poema y qué novela ajenos le habría gustado escribir?“La canción nocturna del pez” (Fisches Nachtgesang), de Christian Morgenstern. Novela: el Quijote de Pierre Menard.
¿Qué aprende un novelista de un poeta? ¿Y un poeta de un novelista? No hago diferencias entre ellos. La poesía no es el arte de hacer versos, sino una manera de ver las cosas.
De no ser escritor le habría gustado ser… Científico de física cuántica, entomólogo o un klingoniano.
¿Cuál ha sido el último libro que le ha gustado?Historia Naturalis, de Plinio el Viejo. Lo leí en paralelo con Guerra y paz, de Tolstói, y eso hizo que me gustara más si cabe.
Si tuviese que usar una canción o una pieza musical como autorretrato, ¿cuál sería? Si hablamos de música clásica, el Andante del Concierto para piano nº 21 de Mozart (que considero la pieza musical más bella jamás compuesta). Si hablamos de música rock, 'God', de John Lennon.
¿Qué suceso histórico admira más? El Big Bang.
¿Qué encargo no aceptaría jamás? Ser madre.
¿Qué es lo primero que se le pasó por la cabeza cuando recibió la noticia del Premio Formentor? “Otro premio que no merezco”.
¿A quién le daría el próximo premio Nobel de Literatura (si vuelve a darse)?Habrá dos premiados el año que viene, así que Vladimir y Estragon podrían ser una muy buena elección.
¿Qué está socialmente sobrevalorado? Las entrevistas literarias y la firma de libros. Jamás entenderé para que sirven.
“El de Chaves Nogales es el único caso de un escritor cuyo rescate se ha llevado a cabo sin saber bien qué es lo que hacía. Se conoce lo que hizo en España hasta el estallido de la Guerra Civil, pero muy poco sobre su actividad en el exilio”. Esta es la reflexión de la que parte Abelardo Linares, editor de Renacimiento y bibliófilo, que asegura haber encontrado alrededor de 600 artículos inéditos en España y publicados de forma anónima por el periodista sevillano durante su exilio en Francia, entre 1938 y 1940.
Linares comenzó a leer a Chaves Nogales en los años 70, cuando apenas había sido desenterrado su Juan Belmonte. Además, a lo largo de las décadas ha desarrollado una extensa actividad de coleccionismo de revistas ilustradas del siglo XX. Esa colección cuenta con una buena cantidad de números de publicaciones mexicanas de los años 40, 50 y 60. En una de ellas, concretamente la Revista Hoy, en la que escribían multitud de exiliados españoles como José Bergamín, Benjamín Jarnés, Margarita Nelken o José Moreno Villa, Linares encontró varias colaboraciones de Chaves Nogales firmadas con su propio nombre y otra, sobre los 10.000 gibraltareños que el gobierno Británico trasladó a Londres a principios de la Segunda Guerra Mundial, firmada con el nombre de su amigo y compañero Eugenio de Larrabeiti, que era el que solía emplear para escribir y enviar dinero a su familia. Además de eso, encontró otras dos colaboraciones (anónimas, pero con un pie de foto que decía: “Es una producción Match”) que le parecieron “innegablemente escritas por Chaves Nogales”.
Esos dos reportajes trataban, respectivamente, sobre los últimos días del gobierno de Negrín y la llegada de los franquistas a Madrid, y fueron utilizados por Abelardo Linares para el epílogo de Los secretos de la defensa de Madrid,otro de los libros de Chaves Nogales que rescató la Editorial Renacimiento. Ahora los ha vuelto a encontrar, el segundo en idénticas condiciones y el primero con una extensión y profundidad mucho mayores, en una revista francesa de la época llamada Match, que desapareció en junio de 1940 con la llegada de los nazis a París.
Este punto de entrada le ha servido para profundizar en su colección de Match, que era una de las cinco revistas ilustradas predominantes de la Francia de la época (junto a Vu, L’Illustration, Voilà y Regards, con la que colaboró, entre otros fotógrafos, Robert Capa). Match era una revista deportiva que vendía aproximadamente 200.000 ejemplares, hasta que en el otoño de 1938 la compró un magnate de la prensa llamado Jean Prouvost, que la convirtió en una revista de información centrada en la actualidad y, según Linares, “con fotos de mucha calidad, un poco a la manera de la inglesa LIFE”.Match fue un gran éxito en los siguientes veinte meses y llegó a vender más de un millón de ejemplares.
ampliar fotoDiario de Chaves Nogales sobre la actividad de Manuel Azaña, en París.
Las piezas que Linares atribuye a Chaves Nogales se publicaban siempre en la sección primera de la revista, que se llamaba La semana de Match. Al principio, dicha sección poseía un estilo periodístico anodino, pero fue en noviembre de 1938 cuando, con un reportaje sobre el segundo aniversario del cerco de Madrid, aparecieron unos pies de foto reveladores respecto a la autoría del periodista español. “El tipo de pie es muy Chaves Nogales por la extensión y por el estilo. En él se dice: ‘Es fácil saber quién es un hombre decente en el Madrid sitiado de 1938: aquel que ha perdido por lo menos un diez por ciento de peso’”, explica Abelardo Linares.
A partir de ahí, el estilo de La semana de Match se mantuvo intacto hasta la desaparición de la revista, que posteriormente se refundaría con el reconocido nombre de Paris Match en 1947. “Teniendo en cuenta que los artículos de la Match suelen ser anteriores a los demás artículos de similar asunto publicados por Chaves en otras revistas, como L’Europe Nouvelle, solo parecen existir dos posibilidades: que Chaves Nogales copiase a ese autor anónimo o que, de hecho, ese autor anónimo fuese Chaves Nogales”, añade Linares. “Su hija Pilar Chavesme lo confirmó. Le leí los artículos de México y le parecieron artículos de su padre”, sentencia.
Según el editor de Renacimiento, Chaves Nogales publicó en Match todos los días durante alrededor de 600 números de la revista, que conforman más de dos mil páginas de contenidos. “Durante ese tiempo hubo dos periodos en la revista: en el primero, hasta el estallido de la Segunda Guerra Mundial, Chaves escribió prioritariamente sobre España y la Guerra Civil. Después empezó a hacerlo sobre la situación europea en mayor medida”, desarrolla Linares.
Respecto al estilo de las piezas, considera que su proximidad con el de Chaves Nogales es indiscutible: “esos artículos son como un fresco histórico del mundo europeo del momento. En ellos habla de lo que está ocurriendo en Italia o Francia como si lo estuviera viendo, con esa mezcla de periodismo y literatura tan frecuente en él, todo el tiempo describiendo a personajes menores de la escena política y social, relatando sus diálogos… son de una viveza extraordinaria”.
De cara al futuro, Linares espera “encontrar alguna pista que confirme definitivamente que Chaves Nogales es el autor de estos artículos”. “De todos modos, tras la llegada de los nazis a Francia, una cantidad enorme de material de la revista fue quemado y destruido, puesto que en sus números se incluían fuertes críticas al nazismo. Pilar cuenta que el propio Chaves decidió destrozar material días antes de que los nazis se presentasen en su casa para registrarla. De todos modos, los archivos policiales de la época, por exhaustivos, dan la esperanza de que haya alguna ficha en la que se hable de su actividad en Francia en la época”, desarrolla.
De cara a la publicación de todo este material, declara que lo conveniente sería “empezar por desgajar la parte española y publicar un tomo sobre todo lo que tiene que ver con España y la Guerra Civil”. Todos estos textos están escritos en francés, pero Abelardo Linares no tiene dudas respecto a su calidad: “a cualquier persona que haya disfrutado con lo que hay publicado de Chaves Nogales hasta la fecha le fascinarán estos artículos”.
MARÍA ISABEL CINTAS: “TENEMOS QUE CUIDAR A CHAVES NOGALES PARA NO CAER EN LA BANALIZACIÓN”
María Isabel Cintas es catedrática en lengua castellana y literatura y una de las grandes estudiosas, junto a Abelardo Linares, de la obra de Chaves Nogales. Sin embargo, respecto a la autoría del periodista sevillano de los dos reportajes que Linares publicó en el epílogo de Los secretos de la defensa de Madrid, se muestra reticente. “No puedo opinar sobre los 600 artículos que ha descubierto ahora Abelardo Linares, porque los desconozco, y si resulta que se prueba que lo son seré la primera en felicitarlo”, explica, antes de añadir: “sin embargo, lo que sí tengo claro es que aquellos dos reportajes no son de Chaves Nogales, ya que aquello que no está firmado por un autor no se le puede atribuir”. “Chaves ha superado con creces los límites de lo que se esperaba de él y ha causado un auténtico furor. Creo que, precisamente por eso, tenemos que cuidarlo, para no caer en la banalización”, sentencia.
Cada vez tienen mayor presencia y el pasado año batieron récords, esta es una agenda para no perderse ni una actividad donde haya una mujer como protagonista
Todavía no. Habrá más firmas de hombres, más encuentros con hombres, más mesas redondas con hombres y más libros de autores. Sin embargo, van ocupando espacio, cada vez más, y se multiplican las actividades con mujeres como protagonistas, los títulos sobre feminismo, la literatura narrada por mujeres, la poesía de las poetisas...
El pasado año las mujeres, sobre todo jóvenes, fueron el 66% de quienes visitaron el Parquel del Retiro y, a mitad de año, en el ránquin de libros más vendidos online arrasaban las autoras, el 70% de los títulos estaban escritos por ellas. La estadística lo dice, nosotras leemos más y compramos más (igual que vamos más al teatro y al cine) y tal vez, solo tal vez, vaya siendo hora de que los eventos nos correspondan. En esta edición de la Feria del Libro de Madrid lo hizo ya el cartel, un aguafuerte firmado por Paula Bonet como homenaje a las escritoras y como protesta por ese silencio impuesto a lo largo de la historia, en esta y en el resto de áreas, de la medicina a la mecánica.
Ya sea por esta explosión reivindicativa, porque llevabamos meses llenando las calles, porque nos han visto como un mercado claro o porque se han convencido —convencido de verdad—, parece que algo está cambiando. En varias ferias ya celebradas, como la de Sevilla, las mujeres han estado más presentes que nunca. Ahora, en la de Madrid, habrá actividades específicas para visibilizar el papel de las mujeres en la literatura, mesas redondas para apoyar a Mujeres del Libro (el movimiento que se creó el pasado marzo, alrededor del 8M, para analizar el papel femenino en el sector), y en los estantes hay algunos títulos que ocupan tanto espacio como el pasado año ocupó Patria, esos que firman Almudena Grandes, Leticia Dolera, María Dueñas o Camila Lackberg. Y ahora probablemente se una la novela negra de Fred Vargas, tras ganar el Príncipe de Asturias de las Letras (la séptima en 37 años de galardón).
Para tener a mano el dónde y cuándo estarán las mujeres en la Feria del Libro de Madrid, como protagonistas, recopilamos las actividades con ellas como epicentro desde este sábado 26 de mayo hasta el 31 de mayo (la semana que viene habrá segunda parte).
SÁBADO 26 DE MAYO
Gloria Fuertes: Poemas de una mística en el suburbio / Mesa redonda
De 11.00 a 12.00 en el Pabellón Bankia, con Amparo Latre, Alicia Pérez Tripiana y Juan Carlos Rodríguez.
Voces femeninas de literatura rumana aún por descubrir
De 20.30 a 21.30 en el Pabellón de Rumanía, con Ioana Pârvulescu, Ioana Nicolaie y Adina Popescu.
DOMINGO 27 DE MAYO
Presentación del libro El encuentro, de Gabriela Adamesteanu
De 18.30 a 19.30, en el Pabellón de Rumanía, con la autora y el traductor, Joaquín Garrigós.
Y me rodean amigas valientes fugitivas del edén. Cómo y por qué surge Mujeres del Libro / Mesa redonda
De 19.00 a 20.00, en el Pabellón Bankia, un debate sobre la precariedad, la visibilización y la soledad, entre otros temas.
Monica Lovinescu, voz destacada del exilio intelectual rumano
De 19.45 a 20.45, en el Pabellón de Rumanía, un diálogo entre Emil Hurezeanu y Luminița Marcu sobre la autora.
Me gusta esa mujer. Personajes femeninos en la obra de José Saramago vistos por mujeres
De 20.00 a 21.00, en el Pabellón Bankia, una charla moderada por Pilar Reyes para recordar al escritor portugués en el 20 aniversario del Premio Nobel con las periodistas Monserrat Domínguez, Pepa Bueno, Lola Cintado y Pilar del Río.
LUNES 28 DE MAYO
¿Quién teme a Ursula K. Le Guin? / Mesa de debate
De 19.00 a 20.00, en la Biblioteca Eugenio Trías (Paseo Fernán Núñez del Retiro), un análisis del legado de la autora feminista, fallecida el pasado 22 de enero, que llegó más allá del público de la ciencia ficción. Participarán el guionista Guillermo Zapata, las escritoras de ciencia ficción Lola Robles (Flores de metal y El árbol de Sefarad) y Óscar Eslava (El futuro que hicimos), las editoras Ana Romero (La mano cornutta) y Susana Prieto Mori (Defausta Editorial), y la librera y responsable de tertulias literarias Abril Gómez de Enterría (Enclave de libros).
Lo que hace una chica como yo en un sitio como este / Mesa redonda
De 20.00 a 21.00, en el Pabellón Bankia, con mujeres profesionales de varias áreas del mundo del libro.
Presentación del poemario Jardines austeros, de Aura Christi
De 20.15 a 21.15, en el Pabellón de Rumanía, con la autora y Ángel Jiménez, que presentará el acto.
MIÉRCOLES 30 DE MAYO
Presentación del libro Lecturas de una ciudad: Bucarest en la narrativa de Mircea Cărtărescu, de Alba Diz Villanueva
De 18.30 a 19.30, en el Pabellón de Rumanía, con la autora y Eugenia Popeangă, que presentará el acto.
MÁS MUJERES
Cartel de la Feria del Libro de Madrid 2018.PAULA BONET
Una mujer lee en El Retiro de Madrid durante la Feria del Libro de 2017. JAIME VILLANUEVA
Finalizada, por ahora, la tormenta de las absorciones derivadas de la lucha por el control del mercado en español y recuperado en 2017 cierto ritmo de ventas, el sector editorial llega a una de las grandes citas del año polarizado (Random House y Planeta controlan el 44% del negocio y Madrid y Barcelona concentran el 63,5% de la producción), con ciertas dosis de optimismo, un puñado de quejas y un enemigo común: la piratería.
La Feria del Libro es un momento esencial para medir el estado de la cuestión: 600.000 ejemplares vendidos, diez millones en ingresos y dos millones de visitantes son cifras de 2017 que la organización espera superar este año. Si la lluvia se olvida por un tiempo de Madrid, algo que no ha hecho en estas primeras horas.
Hay ciertos datos positivos. En España, las mujeres están en índices de lectura similares a los europeos y en Barcelona y Madrid se llega a la media de nuestro vecinos. De hecho, más del 70% de las mujeres entre 35 y 54 años leen al menos una vez por trimestre por el 52% de los hombres, según datos del Barómetro de Hábitos de Lectura elaborado por los editores y el ministerio de Educación.
En 2017 la producción de libros subió un 4,6% hasta los 89.962 títulos con registro ISBN, según datos del ministerio de Cultura. ¿Demasiados libros para un país en el que el 40% no lee nunca o casi nunca? “Se editan todo tipo de libros para todo tipo de lectores. Eso es una riqueza que no se valora. Si no fuera así, ¿quién iba a decidir qué sale y qué no sale?”, defiende Antonio María Dávila, director ejecutivo de la Federación de Gremios de Editores de España.
El doble juego del digital
El sector se mueve en cierta incertidumbre, algo que empieza a ser una sensación demasiado bien conocida. Hay cifras para todos los gustos. Al contrario de lo que ocurre por ejemplo en EE UU, donde el libro digital lleva tres años seguidos de caídas, en España sigue subiendo (un 16% en 2017) y tres de cada diez libros se publican ya en este formato. Sin embargo, el 80% de los lectores digitales reconocen que obtuvieron los contenidos de forma gratuita. Y ahí entra en juego el fantasma de la piratería. En España se consumieron tres libros pirateados por cada ejemplar comprado, según datos de CEDRO. “Hay un tema fundamental, que es conseguir que los internautas, que somos todos, valoremos y respetemos el trabajo ajeno”, asegura a este diario Carme Riera, escritora, académica y presidenta de CEDRO, que pide más medios para la Administración Pública y más “voluntad para destruir esta lacra”. “En 2017 siguió subiendo la piratería. No hay excusa. Se hacen inversiones que no tienen rentabilidad”, reflexiona Dávila para explicar por qué España es el tercer país de la UE donde menos se gasta en lectura.
Amazon no aporta absolutamente nada. Es la despersonalización completa. No es lo mismo comprar almendras al peso que libros
JUANCHO PONS (CEGAL)
Los primeros afectados por todo esto son los autores, parte débil de la cadena del libro que, además, no puede acumular las rentas obtenidas por los derechos de autor a su pensión como sí ocurre en el resto de Europa. “Es una injusticia con mayúsculas”, asegura Riera.
Libreros y distribuidores
Las librerías viven entre la efervescente creación de nuevos espacios y la asfixia de aquellas que están en el centro de las ciudades y no pueden soportar la presión del mercado inmobiliario. “En Francia, el Gobierno está mucho más implicado en la defensa de las librerías, los libros y las editoriales. Es un asunto de Estado, como en Alemania”, asegura Pons. No es la única vez en la que estos dos países son puestos como ejemplo.
Hay un tema fundamental, que es conseguir que los internautas, que somos todos, valoremos y respetemos el trabajo ajeno
CARME RIERA (CEDRO)
El sistema de distribución de libros es algo que el lector no ve, pero sin el que no existiría el mercado. En España, con un precio fijo por ejemplar, se está a medio camino entre el francés (muy regulado) y el británico (totalmente liberalizado). Alemania apuesta por algo distinto, más al estilo de una farmacia: se tiene una muestra y lo que no existe se pide y se entrega en 24 horas. ¿Por qué? Para dar un servicio que compita con Amazon en inmediatez y márgenes. El gigante de las compras por internet es visto por los editores y escritores consultados para este reportaje como un actor más siempre y cuando respete las reglas, pero los libreros lo consideran su gran enemigo. “No aporta absolutamente nada. Es la despersonalización completa. No es lo mismo comprar almendras al peso que libros. Defendemos el poder prescriptor y la diferencia de trato”, aseveran desde CEGAL antes de asegurar que Amazon en EE UU ofrece ya más márgenes a editoriales a cambio de exclusividad. “Están destrozando el mundo del libro por unas cuotas”, aseguran.
Fuentes de Amazon subrayan su capacidad para poner a disposición de los lectores “millones de opciones” y la comodidad e inmediatez de su servicio, pero, preguntados por este periódico en tres ocasiones, la respuesta siempre ha sido la misma -“no revelamos cifras relacionadas con nuestro negocio”- con lo que su influencia en el sector es evidente pero no se puede medir su magnitud.
Un apunte final para el optimismo: los menores de 14 años están por encima de la media de lectura de Europa, según datos del ministerio de Educación. ¿Qué pasa después? Ahí es donde todo lo que falla de la cadena del libro, expuesto de una u otra manera en este reportaje, entra en juego.
Rumania es el país invitado a la 77ª Feria del Libro de Madrid. Durante el último siglo, su literatura ha estado marcada por los totalitarismos y el exilio
Después de haber negado todo cuanto bajo el sol puede negarse, empezando por el mismo sol…”. ¿A qué suena este estilo, este tipo de frase? Correcto: suena a Cioran, Emil Cioran (1911-1995). En el fondo de sus cajones todavía aparecen algunas piedrecitas brillantes, y ahora se publican en español dos obras de juventud —lo cual en su caso no quiere decir de inmadurez pues su visión del mundo y su estilo se mantuvieron siempre más o menos iguales a sí mismos—. Fernando Savater presentará ambos libros, con Luminita Marcu, doctora en literatura rumana y profesora en la Universidad de Salamanca, el 9 de junio en la Feria del Libro de Madrid; uno, la versión original y completa de Lágrimas y santos, de 1937 —Cioran se arrepintió de haber abreviado y suavizado, por “piedad hacia los agnósticos” franceses, el que pensaba que era el mejor de sus libros—; el otro, Extravíos, gavilla de textos breves y de sentencias lapidarias como la que abre este párrafo, que se remontan a 1945 y cuyo manuscrito descansaba inédito hasta ahora en los fondos de la biblioteca Jacques-Doucet de París.
Expatriados
Tiene sentido empezar este paseo por la literatura rumana con el apátrida Cioran, que se dio a conocer en Europa a partir del momento en que, expatriado en París, empezó a escribir en francés (Mauriac sostenía que estaba en posesión de la mejor prosa francesa desde Pascal), porque su extrañamiento de décadas, sin por ello dejar de pensar siempre en el paraíso perdido de su aldea infantil de Rasinari, es muy específicamente rumano. En París cultivaba la amistad de su compatriota Eugène Ionesco, autor de La cantante calva y de Rinoceronte,sendos hitos del teatro del absurdo. Hay una estupenda fotografía en que se los ve a los dos en una calle de París, con el polígrafo Mircea Eliade, que estaba allí de paso, y que moriría de un ataque al corazón provocado por la lectura del elogio que le tributaba Cioran en Ejercicios de admiración.
De izquierda a derecha, Cioran, Ionesco y Eliade, en París en 1977.LOUIS MONIER (GETTY)
El caso de estos tres colosos rumanos exiliados no es raro, sino una pauta nacional. En su “síntesis personal y canónica”, Marcu señala que el exilio que se impuso a tantos escritores bajo el régimen comunista se extiende, o se renueva, con la diáspora actual de una pléyade de autores más jóvenes y contemporáneos que viven en otros países y escriben en otras lenguas. Catalin Dorian Florescu vive en Suiza y escribe en alemán novelas (Zaira y El masajista ciego) traducidas a muchas otras lenguas; la última vez que hablé con Marius Daniel Popescu, que había escrito en francés su excelente novela La sinfonía del lobo, era conductor de autobús en Lausana y dirigía la revista Le Persil, especializada en autores suizos. Ramona Badescu ha escrito en francés 25 libros de cuentos infantiles difundidos en medio mundo, también con ediciones españolas. Gyorgy Dragoman, el celebrado autor de El rey blanco, narrado por un niño de 11 años cuyo padre ha sido enviado a un campo de trabajo por firmar una carta de protesta que trae la ruina a toda la familia, vive en Budapest y escribe en húngaro; Ioan T. Morar, que en Negro y rojo se atrevió a tocar dos temas hasta entonces tabú —la deportación de los gitanos y el genocidio cometido por el Ejército rumano contra los judíos de Odesa—, escribe en rumano pero vive en Francia.
Ellos y muchos otros poetas y narradores prolongan, décadas después del dramático final de la dictadura, la fuga de talentos que llevó a Herta Müller, rumana de etnia alemana, a exiliarse años antes de ser distinguida por el Premio Nobel por unos libros escritos en alemán que, como la autoficción Hoy hubiera preferido no encontrarme a mí misma, describen las tensas relaciones entre los aspectos más grotescos y brutales de la vida cotidiana en su país durante el régimen de Ceausescu, en el gozne chirriante con la vida espiritual, el lenguaje y la escritura.
Cien años de un país moderno
Naturalmente que no todos se han ido. Siguen en Bucarest autores tan interesantes como Varujan Vosganian (1958) y Dan Lungu (1969), por citar sólo a dos de los más conocidos en España. El primero es autor de El libro de los susurros, una memoria novelada, autobiografía familiar y colectiva, epopeya en voz baja o, como él lo llama, “libro de salmos” sobre la persecución secular de los armenios en el genocidio turco de 1915, la persecución de los nazis y del régimen estalinista. El jueves 7 de junio hablará en la Feria este exministro, personaje de indumentaria peculiar, casi fosforescente, y gran novelista. Lungu, además de ser un escritor ameno, divertido, de estilo ligero y preciso, aplica sus conocimientos de sociólogo a su empresa literaria, por ejemplo en Soy un vejestorio comunista, donde a través de una anciana que narra su propia vida explica el “enigma psicológico” de que mucha gente que, como su protagonista, vivió bajo un régimen totalitario severo y humillante, lo añore.
La escritora Ana Blandiana, en Bogotá el pasado mayo.DANIEL MORDZINSKI
La literatura rumana se presenta como invitada de honor en la Feria del Libro bajo el lema genérico de “La historia por descubrir”. La historia oculta es una obsesión nacional. Porque a diferencia de otros países, cuya trayectoria literaria ha seguido —a través de las épocas y de sus traumas y rupturas— una trayectoria inteligible y una deriva lineal, la atormentada historia de la Rumania moderna, de cuyo nacimiento se cumplen ahora 100 años —“nació” en 1918, tras la Primera Guerra Mundial, con la anexión de Transilvania, formando la “Gran Rumania” que después de la Segunda Guerra Mundial encogió, con la pérdida de Moldavia y de Bucovina—, ha determinado que la transmisión de su potente legado cultural de una generación a la siguiente haya sido particularmente tortuoso.
Gran herencia pero problemática
Así, al amparo del Instituto Cultural Rumano y de la aparición de algunos excelentes y fecundos traductores españoles, han llegado a nosotros casi simultáneamente las joyas de la belle époque, las de entreguerras, las de los exiliados del comunismo, las de quienes “se quedaron”, y las últimas novedades de los escritores contemporáneos: el clásico de la literatura dandi y bohemia Los depravados príncipes de la vieja corte, de Mateiu Caragiale (1885-1936), al mismo tiempo queÚltima noche de amor, primera noche de guerra y El lecho de Procusto—las obras maestras de un gran artista que luego se corrompió adulando al tirano para recibir a cambio migajas: Camil Petrescu (1894-1957)—, y que El mismo camino de todos los días, de Gabriela Adamesteanu (1942).
Más allá de la discontinuidad de la difusión internacional de sus autores, también la sociedad literaria rumana ha tenido que rescatar una y otra vez su propia tradición y repensar su propio canon. Al tiempo que florecía la actual generación, han regresado del limbo dos grandes de entreguerras: las estupendas novelas de Mihail Sebastian (1907-1945) nos han llegado a partir de los años noventa, y su obra maestra, el Diario, documento impar del auge del antisemitismo y testimonio de un hombre de letras de brillante porvenir que se ve crecientemente acorralado, silenciado, abandonado por sus amigos, permaneció oculta e inédita hasta 1996.
Algo parecido le sucedió a su amigo Max Blecher (1909-1938), de vida tan patética y de tan admirable temple. Hace ya algún tiempo escribimos aquí que con la publicación de Corazones cicatrizados se consumaba el rescate de su obra, o sea sus tres novelas de enfermo incurable y de visionario, además de un breve poemario. ¿Quién iba a suponer que este 3 de junio el traductor Joaquín Garrigós y Doris Mironescu, biógrafa de Blecher, presentarían La ciudad de los condenados y otros relatos? No es un libro tan logrado como las tres novelas, pero Blecher siempre es Blecher y sólo por tener la ocasión de oír hablar de él ya merece la pena ir al Retiro.
En cambio, a otros ni se les espera ni están. Como Petru Dumitriu (1924-2002), un autor caudaloso pero turbio que abanderó el realismo socialista en literatura incluso en la época en que su propio padre estaba preso por haber sido oficial del Ejército de la monarquía. En 1957 su Crónica familiar, 2.000 páginas y cientos de personajes, fue un logro narrativo y gozó de un éxito abrumador. Director de las ediciones estatales, paradigma del oportunismo, a los 36 años inesperadamente se “pasó al otro lado” aprovechando un viaje a Berlín Oriental y siguió su prolífica carrera literaria (una novela al año) en Alemania y en Francia, donde falleció, sin que hasta ahora nadie haya querido tocar su legado ni con la punta de los dedos, pues siempre le acompaña la sospecha de que en el exilio siguió al servicio de la dictadura tratando de infiltrarse en los círculos de exiliados. Esa pésima reputación es casi lo único que queda de sus muchos libros y de su figura fuertemente colorista.
Candidatos al Nobel
Tres escritores que escriben en rumano suenan desde hace algunos años con mayor o menor fuerza como candidatos al Premio Nobel de Literatura. Se trata de Mircea Cartarescu, bien conocido entre los lectores españoles ya desde su asombroso relato El ruletista —una fábula sobre un jugador de ruleta rusa en apuestas clandestinas, que se enriquece gracias a las pujas que se multiplican según va cargando el tambor de su pistola con dos balas, luego tres, luego cuatro, luego cinco…, siendo tan extremo su desafío a la suerte o su deseo de morir que en la última apuesta carga las seis balas— hasta la reciente Solenoide. Cartarescu dictó ayer la conferencia inaugural de la programación del instituto rumano en el Retiro y hoy tendrá lugar un encuentro con los lectores bajo el título Araña, mariposa y solenoide.
La escritora Herta Müller, en Cartagena de Indias en 2017.DANIEL MORDZINSKI
El segundo candidato al Nobel es Norman Manea (1936). De etnia judía, siendo niño fue internado en un campo de concentración de Transnistria (hoy Ucrania). Tras publicar una docena de libros fue empujado al exilio y se instaló en Estados Unidos, donde sigue viviendo y donde ha venido publicando novelas, la más celebrada de las cuales es El regreso del húligan; siendo el húligan el mismo autor, y el libro una autobiografía novelada de sus extrañamientos que abarca desde antes de su nacimiento hasta el poscomunismo, y el relato de un doble regreso imposible: a su país natal y a los días del pasado que han conformado su destino de extranjero permanente, como judío en tiempos de la Shoá, en cuanto escritor disidente y hostigado durante la dictadura, en cuanto forastero en Nueva York que sigue escribiendo en una lengua exótica, y otra vez extranjero o “cuerpo extraño” en su propio país, que ya no existe o nunca existió.
Manea también es estimulante como ensayista, por ejemplo en los textos de Payasos: el dictador y el artista (“un gran libro, si quieres temblar”, lo definió el añorado Félix Romeo), variaciones de la crítica a diferentes aspectos del totalitarismo, especialmente en ‘Felix culpa’, su análisis del “caso” de Mircea Eliade a partir de una línea en sus Diarios donde se felicita de su “felix culpa”: por “culpa” de su complicidad con el movimiento fascista de entreguerras, la Guardia de Hierro del “capitán” Codreanu, después de la Segunda Guerra Mundial Eliade no pudo regresar a Rumania, ahora sometida al comunismo, y gracias a esa constricción pudo (de ahí lo “felix”) abrirse al mundo, investigar y enseñar Historia de las Religiones como catedrático de la Universidad de Chicago, y seguir escribiendo libros espléndidos hasta su muerte.
La tercera autora nobelizable es la poeta y narradora Ana Blandiana (1942), que el 10 de junio mantendrá sendos coloquios con Mercedes Monmany y Cecilia Dreymüller. Con Monmany hablarán sobre su obra, y con Dreymüller sobre una de sus iniciativas cívicas más notorias: el memorial de las víctimas del comunismo y de la resistencia —museo, laboratorio de investigación y escuela de verano—, bajo el amparo del Consejo de Europa, en la ciudad de Sighet, al norte de Rumania, en las instalaciones de lo que fue una de las cárceles más crueles del antiguo régimen. Se considera Sighet el “tercer museo de la conciencia europea”, después del memorial de Normandía y el complejo de Auschwitz.
Un poema para niños sobre un gato llamado Arpagic (cebollino), que se comporta en sus dominios como un chulo y un tirano, ocasionó no pocos quebrantos a Blandiana. El gato Cebollino fue muy celebrado por los lectores, que veían en él una parodia de Ceausescu, pero también lo entendieron así las autoridades y la sometieron al ostracismo y al silencio bajo vigilancia policial. Cuando cayó el régimen pudo publicar por fin sus versos, y novelas como El cajón de los aplausos, obvia metáfora de su propia vida: para evitar más encontronazos con el régimen un poeta se va “de bolos” a cualquier pueblo remoto, y en uno de ellos se le invita a una bebida de la que despierta entre rejas para someterse a un régimen de reeducación y psicoterapia, para que descubra de una vez las bondades del régimen, y entre los ejercicios de recuperación están las interminables lecciones de aplausos que toma en compañía de otros muchos alumnos que también aprenden a aplaudir a diferentes intensidades. Una distopía con resonancias de Academia Benjamenta en los Cárpatos…
Una literatura bajo el signo de la historia, que desde luego es un signo incómodo, desasosegante.
PISTAS PARA LA FERIA
Cartel de la Feria del Libro de Madrid 2018, dibujado por Paula Bonet.
La 77ª edición de la Feria del Libro de Madrid se celebra en el parque del Retiro hasta el 10 de junio.
Las 363 casetas se distribuyen entre 206 editoriales, 113 librerías, 31 organismos oficiales y 13 distribuidores.
‘Historia por descubrir, historias por escribir’ es el lema de Rumanía como país invitado. Medio centenar de escritores rumanos pasarán estos días por Madrid, entre ellos, Ana Bladiana y Mircea Cartarescu.
J. M. Coetzee presenta esta tarde en el Espacio Telefónica de la Gran Vía su nuevo libro: Siete cuentos morales. Mañana participará en la presentación de la revista Granta en la librería Los Editores y firmará su obra en el Retiro.
EL PAÍS en la feria. El 10 de junio se celebrarán dos coloquios: ‘Los nuevos magos del best seller’ (con Elisabet Benavet, Javier Castillo y Blue Jeans moderados por Jesús Ruiz Mantilla) y ‘El cómic hace memoria’ (con Ana Penyas, Alfonso Zapico y Kim Aubert moderados por Tereixa Constenla).
Durante la feria tendrá lugar un encuentro de directores de bibliotecas públicas latinoamericanas, unas jornadas sobre mercados, edición y lectura y un congreso sobre derechos de autor y propiedad intelectual.
Libro autobiográfico. Es un testimonio extraordinario del Gulag rumano, de las detenciones, los interrogatorios y la vida en las cárceles de la época comunista, al tiempo que constituye un extraordinario ensayo acerca de la naturaleza de las revoluciones y del fenómeno totalitario. De estructura polifónica, combina la narración personal con el análisis filosófico, la exégesis bíblica, la hermenéutica literaria, la investigación sociológica y la teoría política. Steinhardt, un joven judío agnóstico, que se percibe a sí mismo como un viejo fracasado, se convierte al cristianismo en la cárcel. Encuentra allí la verdadera comunión con el otro y el camino que le lleva a la metanoia. Sale sereno, feliz y transfigurado por la fe. El libro cumple la promesa del título y constituye un verdadero tratado acerca de la felicidad.
TRADUCCIÓN DE VIORICA PATEA Y FERNANDO SÁNCHEZ MIRET. EDICIONES SÍGUEME, 2007
Inicialmente censurado, el libro se compone de once relatos. Biográficos y poéticos, fantásticos, estos cuentos pertenecen a la tradición de la literatura fantástica de Poe, Hoffman y Kafka, prolongan las tendencias más modernas de Mijaíl Bulgákov y entroncan con el realismo mágico de Borges y Cortázar. Blandiana coloca un espejo ante la historia reciente de Rumanía, desde la llegada del gobierno comunista hasta 1989, y recurre a lo fantástico para participar en “aquel grave concurso de reconstituciones que la historia declara en cada instante”. Combina las incursiones de la imaginación visionaria con las anotaciones confesionales de un diario y la evocación realista de un documental en el que la meditación y la lucidez alcanzan la intensidad del sueño revelador. La prosa descansa en el fluir de la conciencia y en el tiempo interior, en el arte de rememorar un momento dramático con la objetividad y concreción deslumbrante del instante. Se recomiendan también 'Las Cuatro estaciones' (Periférica) sus libros de poemas (Pre-Textos).
TRADUCCIÓN DE VIORICA PATEA Y FERNANDO SÁNCHEZ MIRET. PERIFÉRICA, 2008
Novela excepcional, con sofisticada estructura, combina la crónica de familia de la novela tradicional francesa del siglo XIX con la técnica del monólogo interior y de la introspección de factura proustiana. Una mañana perdida es la épica de la vida cotidiana centrada en un día en la vida de Vica, una mujer de setenta años, que en su peregrinaje por las calles de Bucarest en busca de comida visita a su antigua patrona, que vive en su vieja mansión. La duración de la novela se inserta en la espera en las colas en las paradas de autobús, las esperas ante las puertas cerradas, las charlas cotidianas e intrascendentes, el recuerdo de los viejos tiempos. La vida de varios personajes se desgrana en una construcción que abarca la historia de Rumanía desde la Primera Guerra Mundial hasta los grises años ochenta. Se trata de un 'collage' de voces que conforman una ingeniosa estructura polifónica con espacios temporales en espiral, en el que la confesión en primera persona de los protagonistas, preludiada por el diálogo de varios personajes, es ilustrada más adelante por el monólogo interior.
Una de las máximas figuras de las letras rumanas, Camil Petrescu, escritor y filósofo, está considerado el Proust rumano. Su prosa cultiva la autenticidad y la experiencia y se inscribe en la línea de renovación vanguardista iniciada por Gide o Stefan Zweig; línea que prima la intuición bergsoniana y la fenomenología husserliana del devenir interior. Continuación de 'Última noche de amor, primera noche de guerra' (Gadir, 2008), 'El lecho de Procusto' es una gran novela erótico-filosófica, con una elaborada técnica narrativa cargada de sensualidad. Está compuesta por un mosaico de memorias de cuatro personajes que conforman dos parejas simétricas y complementarias. Entre los cuatro encarnan distintas concepciones del amor. Sus peligrosas relaciones se proyectan sobre el fondo del momento histórico. La novela construye un drama humano múltiple (ético, social, psicológico, gnoseológico y metafísico), que se traduce en un drama del conocimiento imposible.
CONCIERTO DE MÚSICA DE BACH. Hortensia Papadat-Bengescu
Creadora de sagas autóctonas, esto es, de ciclos de clanes familiares que reflejan la sociedad de entreguerras, Hortensia Papadat-Bengescu es la fundadora de la novela moderna. Sus novelas proyectan inolvidables frescos de la sociedad rumana mediante la creación de un mundo ficticio de una riqueza y coherencia psicológica extremas, con gran diversidad de ambientes y tipos humanos. La preparación de un concierto de Bach es un pretexto para el amor entre Elena y el músico Marcian. La estructura de la novela es análoga a la de una sonata en la que distintos grupos humanos, e impulsos atormentados coexisten con la complacencia moral más abyecta. Al estilo de Proust, James Joyce o Virginia Woolf, la autora sustituye la clásica concepción del personaje unitario por la multiplicidad de los registros del “yo” inscritos en la “duración” bergsoniana, cuya estructura psicológica experimenta un constante proceso de desconstrucción y reconfiguración.
Obra maestra de la literatura rumana y universal. Se trata de una novela semi-autobiográfica que se inscribe en la gran tradición amorosa de 'Tristán e Isolda' o 'Romeo y Julieta'. Situada en la India en los años treinta, narra el amor imposible de un ingeniero occidental y Maitreyi, la hija de su profesor de sánscrito que le había invitado a alojarse en su casa durante su visita. Al ser descubierto su amor, al joven se le prohíbe cualquier contacto con Maitreyi, a la que intenta olvidar en vano. Novela del amor absoluto, es precisamente por esta razón una novela iniciática, del descubrimiento y de la revelación del otro, de lo sagrado y de la superación ante las limitaciones del destino. La novela refleja el choque cultural entre la racionalidad occidental del protagonista y la magia, sensual a la vez que misteriosa, de Maitreyi, arquetipo de la mujer universal. El eros se manifiesta como una fuerza primordial, un daimon, que une a los dos amantes más allá de las fuerzas socio-culturales que los separan. Se recomiendan todos los volúmenes de relatos cortos. Fue llevada al cine con el título 'La nuit de Bengali' (Francia, 1988) por el director Nicolas Klotz y los actores Hugh Grant y Supryia Pathak.
Líder contestado e incontestable de la “generación de los ochenta”, es uno de los promotores más destacados del postmodernismo rumano, en calidad de prosista, poeta y teórico indiscutible de este movimiento. Su obra verifica punto por punto los estereotipos postmodernos con su nueva visión y sensibilidad, al tiempo que sincroniza el postmodernismo rumano con el europeo. 'Nostalgia' es un libro de relatos cortos que se estructuran en tres secuencias –Prólogo, Nostalgia y Epílogo–, un conglomerado narrativo que se nutre de la psicología junguiana y la estética de Umberto Eco, sobre todo el motivo REM, que da título a uno de los cuentos, este aparato infinito de un cerebro colosal que regula el sueño y en el que se refleja la divinidad. Las narraciones no obedecen a un principio ordenador, sino a la geología aleatoria del cuerpo, del sueño y de unas visiones viscerales que prefiguran los motivos y la estructura de lo que se consideran sus obras maestras, 'El Cegador' o 'Solenoide'. En cierto sentido, 'Nostalgia' contiene en esencia la obra de Cartarescu, que, como todas las esencias, es una obra mucho más esmerada y mejor acabada que las novelas río que le seguirán.
TRADUCCIÓN DE MARIAN OCHOA DE ERIBE. IMPEDIMENTA, 2012
Al igual que 'Acontecimientos de la irrealidad inmediata', esta novela pertenece a la tradición de la literatura surrealista y fantástica inspirada en Kafka, Walser o Schultz. Escrita en tercera persona, la trama épica se centra en la experiencia existencial de la enfermedad de Emanuel, un 'alter ego' del autor, quien, enfermo de tuberculosis ósea, convalece en un sanatorio. La novela recrea con un realismo crudo el sufrimiento y la humillación causados por la enfermedad. El drama del personaje blecheriano consiste en superar el sentimiento de dualidad y enajenación de sí mismo y en recuperar, así, la identidad perdida. Emanuel intenta exorcizar la enfermedad mediante el eros, la única posibilidad de regenerar el ser mutilado, que posibilita tanto su reintegración en el mundo como la recuperación de su unidad inicial. Más adelante, en' Cuerpo transparente', recurrirá al sueño como medio salvador.
Acuciada por la necesidad de sobreponerse a la enfermedad, Emil Ferris decidió escapar construyendo un relato destinado a ser verosímil desde la ficción
Página de 'Lo que más me gusta son los monstruos', de Emil Ferris.
Cuando recordamos, traemos al presente momentos de nuestro pasado que creemos vívidas réplicas de lo ocurrido. Fragancias, olores, sonidos y melodías se unen a la imagen para recrear aquello que creemos que sucedió. Sin embargo, no dejan de ser constructos de nuestro cerebro, apenas unos retazos fragmentados de la realidad que son maquillados con eficacia para erigir una ficción de la verdad, una memoria que se autodefine como el equilibrio entre recuerdos y olvidos, entre apenas unas informaciones objetivas y muchos espacios en blanco que son pintados con la firme mano de la verosimilitud. Incapaces de reconocer lo verdadero de lo inventado, aceptamos como cierto lo que nos entrega nuestra mente, hasta el punto de aceptarlo como verdades inmutables, en un acto de fe que tendrá tan corto recorrido como el siguiente recuerdo. Creamos ficciones de un pasado que nos reconfortan con la realidad de un presente que será engullido rápidamente por el pasado.
Acuciada por la necesidad de sobreponerse a la enfermedad, Ferris decidió escapar construyendo su memoria alternativa, un relato destinado a ser verosímil desde la ficción. La vida de la pequeña Karen que se cree una niña-lobo está dibujada sobre un cuadernillo pautado de gusanillo, con bolígrafos que supuran tinta del pasado de la dibujante en el Chicago de los años sesenta, pero que, como los recuerdos, va encontrando su propio camino en una historia que crece continuamente. Se desdobla, toma atajos y vuelve al inicio, se pierde conscientemente sin aparente rumbo fijo, pero cimentando poco a poco un relato poliédrico apasionante, que es capaz de moverse entre la ficción detectivesca de un asesinato y el horror del Holocausto, entre las pasiones imaginarias de una niña de 10 años y la cruda realidad de la calle, entre la cultura popular de los tebeos de terror y el arte de los museos. A medida que el relato avanza, se torna en verdad aceptada para un lector definitivamente preso en una de las obras más sorprendentes del cómic de las últimas dos décadas, tan brillante como inagotable en sus lecturas.
La niña-lobo Karen Reyes con San Cristóbal, en 'Lo que me gusta son los monstruos'.EMIL FERRIS
Los monstruos adoran a Emil Ferris. También Art Spiegelman y Alison Bechdel. Pero lo singular no radica en que dos autores de cómic, por más en la cumbre que estén, reverencien a otra colega, por más recién llegada que sea. Lo anómalo en esta historia es que los monstruos llevan protegiendo a Emil Ferris (Chicago, 1962) desde que nació. “Yo era una niña discapacitada que no podía correr tan bien como los demás y que tenía otras limitaciones físicas. Fui muy afortunada porque encontré unos amigos fantásticos, los monstruos, tanto vivos como ficticios, que me ayudaron a sobrevivir entre los compañeros, los profesores y los trabajadores de mi escuela”. En el patio, los cuentos de terror que Ferris tramaba relegaban al mundo de las anécdotas su joroba o sus piernas desiguales. La narración era más poderosa que la diferencia. Qué miedo más rico.
Ya entonces Ferris podría haber hablado por boca de Karen Reyes, la protagonista de su llameante primera novela gráfica, Lo que más me gusta son los monstruos (Reservoir Books): “A los humanos les da miedo la muerte, los pone frenéticos. Como cuando sea mayor seré una muerta viviente (compuesta de oscuridad, eternidad y cosas así), a mí no me asustará. Los muertos vivientes no tienen problemas de autoestima ni cuestiones de esas”.
Así que puede afirmarse que los monstruos le salvaron la infancia. “Absolutamente”, corrobora en una entrevista por correo electrónico. Y de nuevo le cambiaron la vida, cuando la vida entraba en uno de esos túneles largos y sombríos que acaso huelan como las pinturas negras de Goya porque en el mundo de fantasía de la autora “los sótanos, frío y sudor a la vez, huelen a surrealismo” y “las cocinas a impresionismo”.
Emil Ferris contrajo el virus del Nilo occidental en 2001, en el peor momento posible: madre soltera, niña de siete años, trabajo de noche para cuidar de día. El mosquito la inmovilizó durante semanas. “El jefe de neurología de un gran hospital me dijo que me quedaría paralizada de cintura abajo y que no confiase en recobrar el uso de mi mano derecha. Aunque no creo completamente a los médicos, regresé a la escuela para desarrollar las habilidades que me quedaban. Me imaginé como escritora. Estoy muy agradecida por el hecho de que se hayan equivocado”.
Espíritu Ferris. Si un túnel te absorbe, recréate en las paredes. Aunque se cansa y le cuesta más que antes, recuperó su mano para dibujar, cosa por la que dan gracias Chris Ware y otros lectores más anónimos. Con esa mano agotada a la que fuerza, un bolígrafo y un rotulador —ocasionalmente colores—, despliega una pirotecnia visual asombrosa: dibujo clásico, viñetas gore, retrato romántico, portadas pulp, reinterpretaciones de Seurat, Delacroix o Fuseli. Los cuadros reproducidos, salvo la tarde de domingo puntillista, ahondan en las tinieblas y el antes de morir.
Licántropos, engendros y demonios han arropado de nuevo a su dibujante predilecta. La disciplina creadora actuó como cualquier fisioterapeuta diplomado: favoreció la rehabilitación. “El libro me ha cambiado la vida por completo. No me esperaba esto. Pero uno muerde y te cambia totalmente. Supongo que debería haberlo visto venir, ¿acaso no es eso lo que los monstruos hacen mejor?”, bromea. Hasta entonces, Ferris trabajaba como ilustradora y diseñadora de juguetes para otros, ya fuese la línea Happy Meal de McDonald’s o la compañía china Tomy.
En 2017 la editorial Fantagraphics publicó en Estados Unidos la obra. Ferris y sus criaturas todavía afrontaron una última prueba, a la altura del pavor que emana del Naufragio de Eugène Isabey (también presente en el cómic). El barco que transportaba los ejemplares, impresos en Corea del Sur, fue inmovilizado en el canal de Panamá tras la quiebra de la naviera china que lo había fletado. Cuando se impuso el final feliz, los monstruos salieron a comerse el mundo. “Emil Ferris es una de las autoras de cómic más importantes de nuestra época”, vocea Art Spiegelman desde la contracubierta. En plena Feria del Libro de Miami, se lo había dicho a la cara a la dibujante: “Soy Art Spiegelman y me encanta tu obra”. Ferris se echó a llorar.
Luego se sucedieron más elogios, dos Ignatz (mejor artista y mejor novela gráfica de 2017), cuatro nominaciones para los Eisner que se fallan este verano y peticiones de traducción al español (obra de Montse Meneses Vilar), francés, italiano, coreano, ruso, alemán y portugués. Todo conquistado a partir de la perspectiva de una niña-lobo que se disfraza de detective con sombrero borsalino y gabardina. Karen Reyes, a la que Ferris hará madurar en el segundo volumen en el que ya trabaja, es una niña inclinada hacia las mujeres y entregada a la oscuridad de su fantasía. En San Valentín reparte tarjetas con fideos rojos y esta declaración de amor: “Te habría entregado mi corazón, pero solo podía darte este ventrículo”. Una pequeña Sísifo que soporta acoso escolar con la resignación de quien recorre siempre la misma escalera. Ferris la dibuja subiendo escalones en la escuela mientras carga al hombro un pesado bocadillo donde se reproducen los rostros y los comentarios de esos compañeros de aula que son el enemigo. Cutre. Fea. Perra. Rara.
El mundo feliz está ahí afuera, en los sótanos de un edificio de Chicago de los años sesenta, habitado por ventrílocuos que desaparecen, mafiosos de medio pelo y supervivientes del Holocausto. Hierve la lucha por los derechos civiles y el movimiento hippy. El famoso 68. Cuando asesinan a Anka Silverberg, la mujer más bella que Karen ha visto nunca, la niña-lobo encuentra su misión.
—Karen está en mí. Y aunque no es totalmente yo, tiene una gran parte de mi personalidad.
Por el camino se entrecruzan historias de perdedores y de fantasmas, revistas de terror y días de nazismo, la enfermedad y el sexo o los homenajes a la pintura a través de cuadros del Instituto de Arte de Chicago, donde los padres de Emil Ferris se conocieron. “Cada personaje se inspira en alguien que he conocido. En algunos casos son la amalgama de diferentes personas”, señala.
Parte del poder del libro descansa sobre una elección artística nada inocente: la simulación de un cuaderno escolar pautado a modo de diario de Karen. La autora viaja a los días en los que tendría la edad de su protagonista, 10 años. “Una de mis tías favoritas, Ann Spiess Mills, que tenía ascendencia india como yo, me regaló un libro titulado Mi nombre es León, de Margaret Embry. Cuenta la historia de un niño nativo que se niega a escribir entre las líneas de su cuaderno y lo recordé cuando estaba creando la historia de Karen. Las líneas son incapaces de constreñir la visión de Karen. Creo que es un llamamiento a los artistas. Debemos resistir la dictadura de las rayas azules. No solo debemos estar dispuestos a superar nuestros límites; si queremos entregarnos, debemos esperar exceder esos límites”.
‘Lo que me gusta son los monstruos’. Emil Ferris. Traducción de Montse Meneses Vilar. Reservoir Books, 2018. 416 páginas. 34,90 euros.
El premio nobel de literatura sudafricano John Maxwell Coetzee, este sábado en Madrid.VICTOR SAINZ
El primer avistamiento de John Maxwell Coetzee (Ciudad del Cabo, 1940) tuvo lugar en la sala de desayuno del hotel Wellington. El tipo que lo avistó ayer era otro escritor. Un escritor tatuado, fan por igual de P.G. Woodehouse y Stephen King: Kiko Amat. "He tardado en darme cuenta de que era él", admitía más tarde, en la caseta de su editorial, Anagrama, mientras sella un ejemplar de su última novela, Antes del huracán. "No es la clase de escritor que me entusiasma", confesaba, algo más allá, Ignacio Martínez de Pisón, ignorando, con disimulo, la larga cola, que se aleja por detrás de las casetas, que tiene su compañera de firmas: Almudena Grandes.
Y es que, si la protagonista de la primera jornada oficial de la 77ª Feria del Libro de Madrid fue la irritabilidad atmosférica –el aguacero, los rayos, los truenos y el consecuente lamento del librero ante el desierto de clientes–, el de la segunda fue el entusiasmo desmedido del lector, y la lectora, ante un intermitente sol de justicia, y la sensación de que en el Retiro no faltaba nadie. Ni el probable primer Nobel rumano Mircea Cartarescu, que despachaba al abundante enjambre de amantes de las lisérgicas, kafkianas y tristes desventuras del escritor fracasado que protagoniza Solenoide (Impedimenta), con sonrisas y garabatos, mientras a su lado, su editor, Enrique Redel, aseguraba que su querido autor –que ya ha visitado tantas veces Madrid que hasta tiene un pub irlandés favorito– admira tanto a Coetzee como Coetzee le admira a él. "Es cierto", decía Mircea. Decía algo relacionado con la Akademie Schloss Solitude de Stuttgart. Que coincidieron allí o que ambos pasaron por ella. También, que su libro favorito de Coetzee es Los días de Jesús en la escuela, evidentemente.
Y así, mientras un enorme muñeco de espuma que es en realidad un tipo disfrazado de El Capitán Calzoncillos, el divertidísimo personaje infantil creado por David Pilkey, aterra a una niña, Jorge Herralde y su mujer, Lali Gubern, se detienen ante la caseta de Libros del Asteroide para interesarse por la reedición de Una noche con Sabrina Love, de Pedro Mairal, novela que su editorial, Anagrama, publicó hace "25 años". Herralde lleva bajo el brazo un ejemplar de El hombre que estuvo allí, del clásico del periodismo deportivo George Plimpton. Lali aclara que él y Herralde se conocieron, hace demasiado, en Nueva York. No, ninguno de ellos sabe nada de Elashow, la niña de nueve años que ha superado en colas a Grandes. Tampoco de Coetzee, que decidió inaugurar su pequeña gira por nuestro país (después de Madrid visitará Bilbao y Granada) en el Espacio Fundación Telefónica, con una charla con la editora argentina Soledad Constantini. Su sello, El Hilo de Ariadna, es el responsable –junto a Literatura Random House– de que Siete cuentos morales, el último libro del autor de Desgracia, haya llegado antes que a ninguna parte a España, y Argentina. Dijo Coetzee, americana oscura, camisa blanca, muñequera gris, que elegir no publicar en inglés era "un gesto", parte de su "distanciamiento" de un idioma en cuya visión del mundo no cree. "El peligro de que el inglés se convierta en un idioma global es que las opiniones que ese idioma tiene sobre el mundo también lo serán, y eso no es en absoluto bueno", dijo.
Recordó, el creador de la a menudo arrogante Elizabeth Costello, la escritora australiana "que algunos de mis lectores creen que existe", pues "así llega a veces a perder el control sobre sus personajes el autor", que durante años, lo único que quiso ser fue matemático. Pero que cuando se dio cuenta de que su mente "empezaba a funcionar como la de una máquina", lo dejó. Por otro lado, "tampoco era tan inteligente".
En cualquier caso, aunque le disgusta el modo en que Estados Unidos ejerce un excesivo control cultural sobre el mundo –el escritor aborrece su agresividad política desde la era Bush Jr.–, agradece los años que pasó en Texas, porque allí descubrió a Samuel Beckett. Y no, no es un escritor cristiano, aunque le apasiona la figura de Jesús. El Jesús que Pier Paolo Pasolini retrató en El Evangelio según San Mateo, un Jesús, "salvaje, intenso, un hombre frágil".
Preguntado sobre la posibilidad de que la sociedad en la que vivimos necesite de una terapia freudiana, el escritor aseguró que, sí, que puede que nuestros antepasados hicieran cosas horribles, pero "si en el futuro la historia se repite, nos equivocaremos tanto como ellos", así que "lo mejor que podemos hacer es olvidarnos de todo el daño que se ha hecho y seguir con nuestras vidas".
‘FARIÑA’, EN UNA JAULA
Alberto Sáez quería meter uno de los dos ejemplares de Fariña que ha traído consigo en una jaula. Porque quería dejar claro que esta edición de la Feria no es igual a ninguna otra. Y no lo es porque hay un libro secuestrado. "Tenemos un libro que no podemos vender", dice. El editor de Libros del KO cruza los dedos para que el 30 de mayo la Audiencia Provincial lo libere. Es ese día en que debe resolverse el recurso de apelación que presentaron. "Si no, tendremos que esperar hasta el 21 de junio, que es cuando se celebra el juicio", dice. En cualquier caso, el daño ya está hecho. "En la época en la que más se podría haber vendido, el libro no ha podido venderse", asegura. Pese a todo, el libro va por su décima edición. De ésta, se imprimieron 25.000 ejemplares, "y aún nos quedan 8.000", que serán los que se pondrían a la venta el mismo 30 de mayo, si la Audiencia fallara a su favor.